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Este espaço foi criado para reunir conhecimentos acadêmicos e informações relacionadas ao Concurso para ingresso no Instituto Rio Branco.



domingo, 30 de agosto de 2009

Sites e Blogs de interesse para candidatos ao Instituto Rio Branco






Está claro que as escolhas são sempre pessoais, e sendo assim, subjetivas. Existem outros Sites e Blogs, tão bons ou melhores quanto os que indicarei, e o espaço para comentários, como sempre, ficará em aberto. Há alguns dias indiquei o CAOS, que deixa de constar nesta relação, por já ter sido indicado anteriormente.
1. http://institutoriobranco.wordpress.com/ .
Blog de Estudos para Admissão ao Instituto Rio Branco. A proposta desse Blog é apresentar Provas, exercícios, Bibliografia e divagações sobre o mundo da Diplomacia.

2. http://www.pralmeida.org/
Site do Diplomata Paulo Roberto de Almeida, que apresenta livros (ele é um prolífico escritor!), publicações e trabalhos originais deste bem humorado Doutor em Sociologia, que edita vários Blogs.

3. http://www.clubemundo.com.br
Site com artigos muito interessantes, agregando o Boletim Mundo e a Revista Pangea. Demétrio Magnoli comparece assiduamente nesse espaço virtual.

4. http://www.funag.gov.br
Site governamental do braço editorial do Ministério das Relações Exteriores. Imperdível! Livros para Download e inúmeras informações institucionais para aqueles que pretendem, algum dia, tornar-se riobranquinos.

sábado, 22 de agosto de 2009

A Economia Brasileira no Século XIX (7ª Parte)




A Economia Brasileira no Século XIX – Parte 7


(Continuação...)


Em termos gerais seria ainda possível acrescer, conforme anotou Celso Furtado que o “reduzido desenvolvimento mental da população submetida à escravidão provocará a segregação parcial desta após a abolição, retardando sua assimilação e entorpecendo o desenvolvimento econômico do país,Por toda a primeira metade do século XX, a grande massa dos descendentes da antiga população escrava continuará vivendo dentro do seu limitado sistema de necessidades, cabendo-lhe um papel puramente passivo nas transformações econômicas do país.”
Caberia então focalizar o efeito da extinção do trabalho servil nas economias do açúcar e do café. Começamos pela região açucareira. Nesta não foi difícil atrair e fixar parte substancial da antiga força de trabalho mediante um salário relativamente baixo.
No decênio que antecedeu a Abolição, beneficiara-se a indústria açucareira com vultosas inversões de capital estrangeiro, sob auspício do governo central, o que acabou por possibilitar importantes transformações técnicas. Em 1875 o Parlamento aprovara lei autorizando ao governo imperial dar garantia de juros a capitais estrangeiros empregados naquele setor da economia, até o montante de 3 milhões de libras. Entre 1875 e 1885 foram instaladas 50 usinas de açúcar com moderno equipamento financiado quase sempre por capitais ingleses.
Não obstante, à época da Abolição, as terras agricultáveis estavam praticamente ocupadas na totalidade, e nas regiões urbanas havia excedente populacional constituindo problema social desde o início do século. Para o interior, a economia de subsistência se expandira, com pressão demográfica sobre as terras semi-áridas do agreste e da caatinga.
Foram essas barreiras, a urbana e a do agreste que limitaram a mobilidade da massa de escravos recén liberada na região açucareira. E se as inovações técnicas reduziram a procura por mão-de-obra, a qual já abundava em conseqüência da pouca mobilidade oferecida pelas barreiras conhecidas, as dificuldades trazidas à exportação pelas modificações do comércio mundial do produto, causadas pela libertação política de Cuba - que passava a contar com inversões maciças de capital americano na sua indústria açucareira – proporcionaram o surto excepcional do açúcar cubano, movido pelo tratado de reciprocidade com os Estados Unidos, em detrimento dos interesses açucareiros nordestinos.
Na região do café se deu algo distinto, quanto às conseqüências da Abolição. Nas então províncias do Rio de Janeiro, Minas Gerais e em pequena escala, São Paulo havia se formado uma importante agricultura cafeeira à base de trabalho escravo. A queda da fertilidade das terras dessa primeira expansão do café, de regiões montanhosas e sujeitas à fácil erosão e a expansão proporcionada pela estrada de ferro colocaram essas antigas regiões produtoras em desvantagem em relação às novas regiões que confluíam para o Oeste paulista.
A grande corrente migratória européia e a falta de incentivos mais decisivos para que o antigo escravo fosse à busca de salários substancialmente mais altos, contribuíram para que estes se refugiassem na agricultura de subsistência, dada a relativa abundância de terras.
Aos antigos escravos libertos, a região cafeeira acabou rendendo salários, avaliados por Celso Furtado, como relativamente elevados, indicando uma redistribuição de renda em favor da mão-de-obra, ganho que pareceu ao autor como de efeitos antes negativos que propriamente positivos pela utilização dos fatores.
Com efeito, assim se expressou Celso Furtado, sobre alguns traços mais amplos da escravidão: “ O homem formado dentro desse sistema social está totalmente desaparelhado para responder aos estímulos econômicos. Quase não possuindo hábitos de vida familiar, a idéia de acumulação de riqueza é praticamente estranha. Demais, seu rudimentar desenvolvimento mental limita extremamente suas ‘necessidades’. Sendo o trabalho para o escravo uma maldição e o ócio o bem inalcançável, a elevação de seu salário acima de suas necessidades - que estão definidas pelo nível de subsistência de um escravo – determina de imediato uma forte preferência pelo ócio.”
A economia brasileira parece haver alcançado uma taxa relativamente alta de crescimento na segunda metade do século XIX. Nesse meio século a renda real teria, segundo os cálculos de Celso Furtado, se multiplicado por 5,4, representado, conforme anotou o autor, uma taxa de crescimento anual de 3,5 por cento e de crescimento per capita de 1,5 por cento. Taxa elevada quando se leva em conta a economia mundial do século XIX, pois os EUA acusavam 5,7 de crescimento da renda real, com um crescimento de população mais intenso no entanto, o que levava a uma taxa menor que a indicada para o Brasil.
Assim, considerando o caso do Brasil, onde o comércio exterior compunha a parte mais dinâmica do sistema, é no seu comportamento que o autor de Formação Econômica do Brasil procura a chave de crescimento dessa etapa. Dessa forma, para fins de análise, considerou-se a economia brasileira dividida em três setores principais:
1 – O do açúcar e do algodão associado a vasta zona de economia de subsistência;
2 - Aquele formado pela economia de subsistência do Sul do país; e,
3 - O que tinha como centro a economia cafeeira.

1. Açúcar, Algodão e economia de subsistência a estas ligada
Esse sistema estava formado pela faixa que se estende do Estado do Maranhão até Sergipe, excluída a Bahia por sua economia haver se modificado profundamente durante a 2ª metade do século XIX, pelo advento do cacau. A população que ocupava o território atualmente pertencente a oito estados brasileiros, a saber, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe ainda representava, de acordo com o censo de 1872, a terça parte da população do Império. Caso fosse acrescida a população baiana, o percentual atingiria quase a metade.
Entre os censos de 1872 e o de 1900, a população dessas antigas províncias (Império)/ Estados (República) citadas aumentou uma taxa anual de 1,2 por cento, taxa que aplicada ao meio século considerado acusa um incremento populacional de 80 por cento, bem superior ao da renda real gerada pelo setor exportador, que foi de 54 por cento.
As conclusões de Celso Furtado perante esses dados seriam no sentido de admitir que houve declínio na renda per capita desse sistema da economia brasileira, não sendo possível no entanto, quantificá-lo rigorosamente, pois temos que levar em conta que existiam dentro desse sistema, outros dois: o litorâneo (principalmente exportador) e o mediterrâneo (principalmente de subsistência).
Para que não tivesse havido redução na renda per capita da região, teria sido necessário que aumentasse substancialmente a produtividade no setor de subsistência, o que obviamente é uma hipótese inadmissível, pois durante essa época já se tornara notória a pressão demográfica sobre as terras agricultáveis da região.

2. A economia de subsistência do Sul do País
Esse setor da economia beneficiou-se indiretamente com a expansão das exportações. É preciso realçar o contraste entre a região de economia de subsistência do Sul do país e a região nordestina, que transparece claramente dos dados demográficos.A região das Colônias se beneficiou da expansão do mercado interno, seja diretamente, colocando alguns produtos como o vinho e a banha de porco, seja indiretamente, através da expansão urbana, possibilitada pelo aumento de produtividade no setor pecuário.
Encontrando mercado dentro do próprio país, capaz de absorver seus excedentes de produção, alguns setores da economia de subsistência puderam expandir a faixa monetária de suas atividades produtivas, como na região paranaense que conheceu a grande expansão de erva-mate. Neste caso, os colonos, em grande parte constituídos por população transplantada da Europa por planos nacionais e provinciais de imigração subsidiada, puderam dividir seu tempo entre a agricultura de subsistência e a extração de folhas de erva-mate, aumentando substancialmente sua renda.
Os colonos mais próximos do litoral se beneficiaram da expansão do mercado urbano, expansão que tinha seu impulso primário no desenvolvimento das exportações. No Rio Grande do Sul coube o impulso dinâmico de suas exportações para o mercado interno. Essas exportações, particularmente o charque, chegaram a constituir a metade das vendas totais do Estado para os mercados interno e externo ao fim do século passado.
Entre os censos de 1872 e 1900, as populações do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso aumentam 127 por cento, equivalente a uma taxa anual de 3 por cento. Considerou Celso Furtado ser muito provável que tenha aumentado a produtividade econômica média, e por conseguinte, a renda per capita, admitindo-se ainda que esse aumento de renda per capita tenha sido de alguma magnitude.

3. O sistema constituído pela região produtora de café.
Essa região compreendia então os Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, cujas populações consideradas em conjunto aumentaram a uma taxa de 2,2 por cento entre 1872 e 1900, superior à do Nordeste porém muito inferior à da Amazônia e a da região Sul.
O desenvolvimento da região cafeeira se realizou, nesse meio século, com transferência de mão-de-obra das regiões de mais baixa produtividade, e infere-se, do setor de subsistência dessa região para outras de mais alta produtividade, o que vale dizer, um processo inverso ao ocorrido no Nordeste na mesma época. A rápida expansão do mercado interno na região cafeeira teria de repercutir muito favoravelmente na produtividade do setor de subsistência, concentrado principalmente no Estado de Minas Gerais.
A transferência de mão-de-obra do setor de subsistência para o cafeeiro significava que a importância relativa deste estava aumentando, podendo-se, de acordo com Celso Furtado, admitir como provável que a renda per capita do conjunto da região não estaria crescendo com ritmo inferior ao do setor exportador, pois se a renda real gerada pelas exportações do café cresceram com a taxa anual de 4,5 por cento, dado o crescimento da população, a taxa de aumento anual da renda real per capita seria de 2,3 por cento.
Permaneciam fora dos três sistemas citados, a Bahia (13 % da pop. em 1872) e a Amazônia.(3% no mesmo censo). Na Bahia, a produção do cacau foi iniciada para fins de exportação na segunda metade do Dezenove, proporcionando uma alternativa para o uso dos recursos terra e mã-de-obra, de que não se beneficiaram as demais regiões nordestinas. Teve importância relativa pequena, apenas 1,5 do valor das exportações brasileiras nos anos 1890. Havia ainda como produto de importância, o fumo, antes destinado ao escambo de escravos, encontrara naquele meio século um mercado crescente na Europa.
Deduziu Celso Furtado, com base em algumas estatísticas, que a exportação per capita da região baiana não seria superior à nordestina, havendo indicações ainda que o desenvolvimento fora entorpecido pela ação profunda de fatores similares aos que atuaram no Nordeste como um todo. O que valeria dizer, que a melhora da situação de algumas regiões terá ocorrido simultaneamente com o empobrecimento de outras.
Quanto à região amazônica, cujas exportações alcançaram extraordinária importância relativa na etapa final do século, cumpre anotar que a participação da borracha no valor total das exportações elevou-se de 0,4 por cento nos anos 1840, para 15,0 nos anos 1890, decênio no qual o valor das exportações per capita duplicaram as da região cafeeira, se bem que tenhamos que levar em conta que grande parte dessa renda não revertesse à região, e parte substancial daquela que se revertia acabava liquidada em importações.
Finalizando, caberiam ainda algumas palavras sobre a economia brasileira no século XIX. Em uma economia do tipo brasileira, o coeficiente de importações era particularmente elevado, se observado apenas o setor monetário, ao qual se limitavam praticamente as transações externas. Os desequilíbrios na balança de pagamentos eram relativamente muito mais amplos, pois refletiam as bruscas quedas de preços das matérias-primas no mercado mundial. De acordo com Celso Furtado, devemos levar em conta as inter-relações entre o comércio exterior e as finanças públicas, pois o imposto às importações era a principal fonte de renda do governo central.
O que traz a lume algumas considerações. No momento em que se deflagrava uma crise nos centros industriais, os preços dos produtos primários caíam bruscamente, reduzindo-se de imediato a entrada de divisas no país de economia dependente.
Enquanto isso, o efeito dos aumentos anteriores do valor e do volume das exportações continuava a propagar-se lentamente. A forma como se financiavam as importações brasileiras contribuía para agravar a pressão sobre a balança de pagamentos por ocasião das depressões. As importações brasileiras procediam em grande parte da Inglaterra, ou se encontravam sob controle de casas comerciais inglesas, com grande liquidez nas praças brasileiras.
Essas casas inglesas emprestavam a médio prazo, aos comerciantes que exportavam para outros países. Assim, o comércio de importação é que financiava o de exportação. Ao ocorrer um colapso na procura de produtos brasileiros no exterior, acumulavam-se os fundos líquidos em mão dos importadores, fundos esses que advinham das vendas na etapa anterior de prosperidade. Esses fundos líquidos pressionavam sobre a balança de pagamentos, exatamente no momento em que se reduzia a oferta de divisas.
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Com esta postagem, entendemos por concluído o estudo do item 4.1 (Economia Brasileira), do Programa de Noções de Economia do CAD. Como assinalado no momento da postagem da primeira parte, as reflexões aqui colocadas não pretendem esgotar o tema,até por terem se limitado ao clássico escrito por Celso Furtado. Julgo que o estudo a ser realizado poderá comportar outras fontes, dentro se possível, da Bibliografia Sugerida nesse concurso. Portanto bom estudo a todos. Antonio Carlos

A Economia Brasileira no Século XIX (6ª Parte)




A Economia Brasileira no Século XIX – Parte 6

(Continuação...)

O problema de como aumentar a produção da borracha, em virtude de se tratar de extrativismo em árvores da Bacia Amazônica, colocava um nó na grande procura movida pelo comércio internacional.
Havia ficado demonstrado que uma ou mais plantas que produziam a matéria-prima da borracha (látex) poderia ser adaptada em outras regiões de clima similar ( o que não tardaria a acontecer sob capitais ingleses na Ásia), desde que contando com adequado suprimento de mão-de-obra e recursos para financiar o seu longo período de gestação.
A expansão da produção da borracha no Brasil foi uma questão de mão-de-obra, resolvida por braços nordestinos a partir de enorme transumância realizada nos fins do século dezenove, sendo que apesar da precariedade dos dados, comprova ter a população do Pará e Amazonas – consideradas em conjunto – saltado de 329.000 (censo de 1872), para 695.000 habitantes.
Ora, de acordo com o censo de 1900, esses dados correspondiam a um influxo externo considerado da ordem de 260.000 pessoas, não computados aqueles que haviam penetrado na região que viria a tornar-se depois, o Estado do Acre.
A tese do Prof. Celso Furtado é que, em virtude da magnitude desses dados, já existiria no Brasil de fins do século XIX, um reservatório substancial de mão-de-obra suficiente enquanto solução alternativa, caso não tivesse sido possível a solução pelo recurso ao imigrante europeu.
Seria para a Amazônia que seguiria o imigrante nordestino, seduzido por propagandas fantasistas dos agentes pagos pelos interesses da borracha, ou pelos exemplos daqueles que haviam outrora, amealhado recursos nos tempos em que a borracha alcançara melhores preços.
Aos novos imigrantes aguardavam doenças tropicais; na ignorância daquilo que se passava na economia mundial, permaneceriam na região, deixando-se ficar por falta de meios para regressar, regredindo à economia de subsistência e marcados por uma baixíssima taxa de reprodução.
Drama social somente parcialmente mitigado pela anexação do Acre ao território brasileiro, mesmo assim, mediante indenização à Bolívia ( 2 milhões de libras), e a obrigação da construção da estrada de ferro (Madeira-Mamoré), que proporcionasse à Bolívia acesso ao curso navegável do rio Madeira.
Ocorria então, em face de uma taxa de natalidade insignificante, um enorme desgaste humano em uma etapa da Economia na qual o problema fundamental da economia brasileira era aumentar a oferta da mão-de-obra.
E tão grande era essa necessidade, que para o homem que integrava o sistema escravista, a abolição do trabalho servil assumia proporções de uma hecatombe social. Nas palavras de Celso Furtado, a abolição da escravatura, à semelhança de uma “reforma agrária” não constitui per se, nem destruição, nem criação de riqueza, mas somente redistribuição da propriedade dentro da coletividade, apenas a propriedade da força de trabalho escrava passa do senhor de escravos para o indivíduo; este deixa de figurar na contabilidade daquele como um ativo, passando a constituir-se em mera virtualidade.
Para Furtado enfim, o aspecto fundamental que envolve o problema da abolição encontra-se no tipo de repercussões que a redistribuição da propriedade terá na organização da produção, no aproveitamento dos fatores disponíveis, na distribuição da renda e na utilização final dessa renda.
Observada a abolição de uma perspectiva ampla, conclui o Prof. Furtado que a mesma constitui-se mais em medidas de caráter político que propriamente econômico, pois abolido o trabalho escravo, em nenhuma parte foram observadas reais modificações na forma de organização da produção e, defende Furtado, mesmo na distribuição de renda, não obstante haver sido eliminada uma das vigas básicas dos sistema de poder formado na época colonial e que, ao perpetuar-se no século XIX, constituía em fator de pouco dinamismo econômico.

(Continua...)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Vamos visitar o CAOS!

Recebi dos organizadores do Blog CAOS (http://caos-ri.blogspot.com/) um amistoso convite para visitar suas páginas. Achei o Blog muito interessante, com matérias que aliam a atualidade com a epistème. Seus autores, Caio César, Larissa Sarrea e Vinícius de Almeida estão de parabéns. Agradeço ainda as palavras gentis que me dirigiram, e me sinto renovado ao conviver com vocês nessa saudável troca de conhecimentos.Estejam em casa, e continuemos nesse contato. O blog de vocês já se encontra em meus "favoritos".
Renovando a informação, nosso e-mail: estudosdiplomaticos@gmail.com
Através desse endereço, podemos repassar muito material. Aguardo.
Em breve vou disponibilizar os endereços eletrônicos que consegui reunir. É só aguardar. Um abraço a todos.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A Economia Brasileira no Século XIX - (5ª parte)




A Economia Brasileira no Século XIX – Parte 5

(Continuação...)

A solução que equacionou a vinda do imigrante viria em 1870, sendo verdade como nos lembra o Prof. Celso Furtado, acompanhada de um conjunto de condições favoráveis do lado da oferta. Uma dessas condições foi a unificação italiana, de profundas conseqüências econômicas, onde o Sul da península, ou seja o reino das duas Sicílias, de menor grau de desenvolvimento e mais baixa produtividade agrícola acabou em difícel situação frente ao Norte, mais desenvolvido. A conseqüência foi a desorganização das indústrias manufatureiras do Sul, inclusa a indústria têxtil que contava com grau de desenvolvimento relativamente alto. Com isso, veio a pressão sobre a terra, do excedente de população agrícola, gerando intranqüilidade social, onde a solução migratória apareceu como verdadeira válvula de escape.
Assim, as bases para a formação da grande corrente imigratória que tornaria possível a expansão da produção cafeeira no Estado de São Paulo foram lançadas quando o governo imperial passou a encarregar-se dos gastos do transporte de imigrantes. Nessa solução, o fazendeiro deveria cobrir os gastos do imigrante durante seu primeiro ano de atividade, devendo colocar à sua disposição terras em que pudesse cultivar os gêneros de primeira necessidade para manutenção da família. O imigrante teria, na avaliação de Furtado, seus gastos de transporte e instalação pagos e sabia a que se ater com respeito à sua renda futura.
Dentre as atividades produtivas já tratadas, falou-se de sistemas, onde figura a grande lavoura de exportação. Contudo, nos poros dessa economia voltada “para fora” aparecem vez por outra referências à lavoura de subsistência. Convém dedicarmos algumas linhas a essa importante atividade econômica que não estava voltada para o mercado externo. Lembramos então que foi no Sul da província de Minas, como reflexo da expansão da mineração que se formaram núcleos de população rural. Desse comércio de gêneros e animais, surgiram os capitais da vanguarda da expansão cafeeira.
É também uma precária economia de subsistência que tão mal impressionou os viajantes europeus que atestaram o rudimentar sistema econômico das primeiras colônias de imigrantes alemães instaladas no Brasil. Na verdade mesmo se não omitirmos o fato que, como escreveu Celso Furtado, essas colônias careciam totalmente de fundamento econômico, somos forçados com esse autor a admitir que em virtude da abundância de terras, o sistema de subsistência tende naturalmente a crescer, implicando a mais das vezes esse crescimento em redução na importância relativa da faixa monetária. Como afirmou Furtado, o capital que dispõe o roceiro é mínimo e o método que utiliza para ocupar novas terras o mais primitivo. Reúnem-se em grupos, abatem as árvores maiores e em seguida usam o fogo como único instrumento para limpar o terreno. Entre troncos e tocos não destruídos, plantam a roça, sendo que para os fins estritos de alimentação de uma família, essa técnica será o suficiente. O “caboclo” é uma criação da economia de subsistência. A esse caboclo não conviria abandonar essas primitivas técnicas por outras mais avançadas, pois o excedente de sua produção não teria valor econômico.
Se a roça era a unidade econômica mais importante da economia de subsistência, do ponto de vista social, a unidade mais significativa era a que tinha como chefe o proprietário de terras, a quem interessava que o maior número de pessoas vivessem em suas terras, pois se cabia a cada um tratar de sua própria subsistência, o senhor de terras poderia dispor da mão-de-obra de que necessitasse, e o prestígio de cada um dependia da quantidade de homens que pudesse utilizar a qualquer momento, e para qualquer fim.
Assim, há de se registrar os fluxos migratórios onde florescera a economia mineira, com a população deslocando-se a grandes distâncias em razão da maior escassez de boas terras, formando uma corrente migratória em direção ao Estado de São Paulo, bem antes de neste penetrar a lavoura cafeeira. Outra dessas correntes investiu na direção do Mato Grosso, ocupando primeiro as terras bem irrigadas do Triângulo Mineiro.
Atesta ainda Furtado que as colônias européias localizadas no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, em virtude da qualidade e abundância de suas terras proporcionavam, mesmo a um nível baixo de técnica agrícola, um suprimento mais que adequado de alimentos que se traduzia em uma altíssima taxa de crescimento demográfico vegetativo. Esses fatores – massa populacional e excedente de alimentos – constituirão fatores básicos do rápido desenvolvimento da região sul do país em etapas subseqüentes, quando a expansão do mercado interno, ao impulso do desenvolvimento cafeeiro, criar os estímulos que anteriormente não existiam.
Na região nordestina essa expansão já se realizava desde o século XVII e na segunda metade do século XIX, em algumas de suas sub-regiões, os sintomas de pressão demográfica sobre a terra tornaram-se mais ou menos evidentes. O desenvolvimento da cultura algodoeira, nos primeiros decênios do Dezenove, havia, ao permitir uma diversificação da atividade econômica, auxiliado para intensificar o crescimento da população. Mas ondas de prosperidade da cultura algodoeira, como as experimentadas pela elevação de preços causada pela Guerra Civil norte-americana durante os anos sessenta, ao mesmo tempo que traziam riqueza, contribuíam também para criar um desequilíbrio estrutural na economia de subsistência, à qual sempre revertia à população nas etapas subseqüentes. Esse problema estrutural assume extrema gravidade por ocasião da prolongada seca de 1877-80, onde desapareceu quase todo o rebanho e pereceram entre cem a duzentas mil pessoas.
Uma das soluções então apresentadas foi a emigração para outras regiões do país, e especialmente para a região amazônica, pois os governos dos Estados amazônicos interessados, organizaram serviços de propaganda e concederam subsídios para o transporte.
Cumpre lembrar que a economia amazônica entrara em decadência desde fins do século XVIII, quando foi desorganizado o engenhoso sistema de exploração da mão-de-obra indígena, estruturado pelos jesuítas. Em pequena zona do Pará se desenvolvera uma agricultura de exportação que seguia de perto a economia maranhense. O algodão e o arroz haviam conhecido uma etapa de prosperidade por ocasião das guerras napoleônicas. A base da economia da região eram as especiarias extraídas da floresta, sendo que destes produtos extrativos, o cacau era o mais importante, porém a forma como era produzido não permitia que o produto alcançasse maior significação econômica.
O aproveitamento dos demais produtos da floresta deparava-se sempre com a mesma dificuldade: quase inexistência de população e dificuldade de organizar a produção com base no escasso elemento indígena local. No caso da borracha, é registrada sua exportação desde os anos 20. Nos anos 40, a média era de (460 ton. anuais), 1.900 ton no decênio seguinte e 3.700 ton. nos anos sessenta, momento no qual começa a se registrar aumento nos preços do produto.
A borracha estava destinada nos fins do séc XIX e começos do séc XX, a transformar-se na matéria prima de procura mais rápida no mercado mundial, pois a indústria de veículos terrestres a motor de combustão interna será o principal fator dinâmico das economias industrializadas, durante um largo período que compreende o último decênio do século XIX e os três primeiros do séc XX.
(Continua...)

A Economia Brasileira no Século XIX - Parte IV






A Economia Brasileira no Século XIX – Parte 4

(Continuação...)

Utilizando intensivamente a mão-de-obra escrava e contando com abundância de terras, a empresa cafeeira, amplamente baseada neste último fator, contava ainda com a formação de uma nova classe empresarial cuja vanguarda, desde o começo, esteve formada por homens com experiência comercial, no que aliás, ressalta Celso Furtado, que em toda a etapa da gestação da economia cafeeira, os interesses da produção e do comércio estiveram entrelaçados. Essa classe de empresários desempenhará papel fundamental no desenvolvimento subseqüente do país.
Muitos daqueles que se haviam dedicado ao abastecimento da capital do país, a qual sofrera grande transformação de hábitos de consumo com a vinda da Corte portuguesa, ao acumular alguns capitais no comércio e transporte de gêneros e de café, passaram a interessar-se pela produção, no que se constituíram na vanguarda da expansão cafeeira. Esta nova classe dirigente formou-se, conforme anotou Celso Furtado, “numa luta que se estende em uma frente ampla: aquisição de terras, recrutamento de mão-de-obra, organização e direção da produção, transporte interno, comercialização nos portos, contatos oficiais, interferência na política financeira e econômica”.
A proximidade da capital do país constituía, evidentemente, uma grande vantagem para os dirigentes da economia cafeeira. Desde cedo eles compreenderam a enorme importância que podia ter o governo como instrumento de ação econômica. Este grupo possuía, na opinião do Prof. Celso Furtado, uma consciência clara dos seus próprios interesses, o que os diferenciaria dos grupos dominantes anteriores ou mesmo dos contemporâneos.
Ao findar o terceiro quartel do séc. XIX, o país reitegrara-se nas linhas em expansão do mercado mundial, conseguira manter unidade política e territorial com extensas terras agricultáveis, contava com uma classe empresarial apta a autofinanciar a extraordinária expansão que a economia cafeeira conheceria, mas enfrentava um problema crucial: a mão-de-obra.
O censo de 1872 revelava uma força de trabalho escrava orçada em cerca de um milhão e meio de indivíduos. Dados revelam que a importação de escravos pelo Brasil havia sido três vezes maior que as realizados pelos norte-americanos na primeira metade do século XIX. Tendo crescido a procura de escravos no Sul para as regiões do café, o tráfico interno passa a intensificar-se, sendo transferidos escravos das regiões cuja rentabilidade econômica encontrava-se reduzida. A primeira vítima dessa drenagem de mão-de-obra foi a decadente região algodoeira, em particular o Maranhão. A região açucareira, mais capitalizada defendeu-se melhor dessa drenagem.
Em uma economia primário-exportadora como era a brasileira, o crescimento dava-se – ao contrário das economias industriais, que possuem o fator tecnológico – puramente em extensão. Destarte, o crescimento da economia brasileira deveria ocorrer puramente pela ampliação do fator disponível “terra” aliado à incorporação de mais mão-de-obra, de onde se colocava a grande questão fundamental: o aumento da oferta de força de trabalho disponível para a grande lavoura.
Foi sugerido fomentar a imigração européia como solução alternativa para o problema da mão-de-obra. Estes deveriam vir então para aumentar a oferta da mão-de-obra para a “grande lavoura”, denominação da época que deveria corresponder ao termo plantation utilizado pelos ingleses; ingleses que cabe anotar, reexportavam para as Antilhas, como trabalhadores “livres”, os africanos apreendidos nos navios negreiros que se dirigiam ao Brasil. Em contraposição, convém lembrar que nos EUA, a imigração européia nada tinha a ver, ao menos em termos diretos, com a oferta de mão-de-obra para as plantações. O escravo negro norte-americano apresentava apreciável crescimento vegetativo, no que ainda cabe lembrar, muitos não trabalhavam em grandes plantações.
Os Estados Unidos se beneficiavam ainda dos navios cargueiros e semi-cargueiros que se dirigiam à Europa com grandes carregamentos de algodão; o volume mais condensado das importações para a América permitiam que na viagem de retorno, fossem praticados baixos preços nas passagens, favorecendo os novos colonos que ainda contavam com um mercado de trabalho em expansão, em parte reflexo do desenvolvimento das plantações no Sul, à base do trabalho escravo.
No caso brasileiro, a imigração européia adquiria condições bastante distintas. As colônias criadas careciam, nas palavras de Celso Furtado, do fundamento econômico, tendo na sua razão de ser a crença na superioridade inata do trabalhador europeu, particularmente se tivessem origem distinta dos antigos colonizadores portugueses. Para esses, pagava-se transporte, gastos de instalação e promoviam-se obras públicas artificiais para oferecer trabalho.
O que não livrava essas colônias de uma vida bastante precária, não havendo mercado para os seus excedentes de produção. Em breve, já por volta de 1859, se proibia a imigração alemã para o Brasil. O êxito das políticas imigratórias vinculava estas à dedicação imediata dos imigrados nas atividades produtivas rentáveis. Isto só poderia ocorrer se a colônia se integrasse nas linhas de produção de um artigo de exportação, ou fosse orientada de imediato para a produção de artigos que dispusessem de mercado no país. A produção para exportação estava no entanto, organizada no sistema de grandes plantações, exigindo imobilização de capital não acessível aos colonos em sua etapa de instalação; e caso se decidissem a plantar café, teriam de concorrer com empresas que exploravam a mão-de-obra escrava.
A classe dirigente da economia cafeeira passava a preocupar-se diretamente com o problema, e um grande plantador, o Senador Vergueiro, contrata diretamente seus trabalhadores da Europa, no que conseguiu do governo o financiamento do transporte, transferindo 80 famílias de camponeses alemães para sua fazenda em Limeira. Simples adaptação do sistema adotado nos EUA da época colonial, onde o trabalhador vendia o seu trabalho futuro, no caso brasileiro a diferença era que em vez do financiamento correr por conta do empresário, o governo cobria a parte principal do financiamento, que era a passagem da família.
Esse sistema, como sabemos, degenerou rapidamente em uma forma de servidão temporária, onde sequer havia um limite fixado de quando tal servidão terminaria. Com os anos sessenta, o evento da Guerra da Secessão e a melhoria dos preços do café, ficava ainda mais restringida a oferta interna de escravos do Norte para o Sul, em virtude da grande alta nos preços do algodão. A pressão desses acontecimentos sobre o mercado de trabalho fez com que se iniciasse um sistema de pagamento ao colono. Inicialmente o sistema adotado fora o da parceria, cabendo ao colono a metade do risco que cabia ao senhor das terras, com a perda da colheita acarretando em miséria para o colono em face de sua precariedade financeira.
O sistema misto é introduzido a partir dos anos sessenta, ficando garantido ao colono a parte principal da sua renda, sendo sua tarefa básica cuidar de um certo número de pés de café, recebendo para isso, um salário monetário anual, o qual era complementado por outro variável, pago no momento da colheita, em função do volume desta.

(Continua...)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A Economia Brasileira no Século XIX (3ª Parte)




A Economia Brasileira no Século XIX – Parte 3

(Continuação...)

Reintegrar-se nas linhas em expansão do comércio internacional com seus próprios meios, e conquistar a cooperação do capital estrangeiro eram as tarefas da economia brasileira na primeira metade do século XIX; a avaliação das condições de tal reintegração passa pelo exame das pautas tradicionais de exportação, seu posicionamento e possibilidades de vir a tornarem-se dinâmicas.
Encabeçando a pauta de exportações, estava o açúcar; ocupando o segundo lugar, o algodão; seguido por produtos considerados menores, como o fumo, couros, arroz e cacau.
O mercado do açúcar tornara-se cada vez menos promissor, com a Inglaterra abastecida por suas colônias antilhanas e com a produção em solo europeu do açúcar de beterraba durante as guerras napoleônicas. O promissor mercado norte-americano, em expansão, contava com produção própria da Luisiânia, que fora comprada aos franceses em 1803. Finalizando o rol dos concorrentes, Cuba, ainda como colônia espanhola havia aberto seus portos a todas as nações amigas, o que fazia escoar sua produção de forma privilegiada para os EUA, em virtude dos baixos fretes.
Ainda pior era a situação do algodão, pois a produção norte-americana, com fretes relativamente baixos ao mercado inglês, organizada em regime escravista com mão-de-obra abundante. Aliás, é ressaltado por Celso Furtado que o escravo norte-americano contava com elevada taxa de crescimento vegetativo, vivendo em propriedades relativamente pequenas do Old South, com condições de alimentação e trabalho relativamente favoráveis, e ao iniciar a Guerra da Secessão, os Estados Unidos contavam com uma força de trabalho escrava orçada em quatro milhões de indivíduos. A oferta de escravos nos novos Estados do Sul, nos quais ocorria a grande expansão algodoeira passou a depender basicamente do crescimento da população escrava dos antigos Estados escravistas.
Além disso, contavam os norte-americanos com grande oferta de terras de primeira qualidade – utilizadas de forma predatória – mas que garantia o total domínio do mercado. O Maranhão tinha se beneficiado da cultura do algodão em época de preços extremamente elevados, porém a produção em grande escala nos EUA e a transformação do algodão na principal matéria-prima do comércio mundial fizeram os preços do produto reduzir-se a menos da terça parte dos anteriormente praticados, mantendo-se em torno desse nível a partir dos anos 1830, com flutuações. Nesse contexto, as regiões produtoras no Brasil conheciam uma rentabilidade extremamente baixa, sendo o algodão um complemento da economia de subsistência, situação que somente deixa de existir pelo interregno balizado pela Guerra de Secessão, quando o algodão norte-americano fica excluído temporariamente do mercado mundial, propiciando nova fase de prosperidade para as regiões produtoras no Brasil.
O fumo, os couros, o arroz e o cacau, considerados produtos menores na pauta de exportações, apesar de não admitirem grandes possibilidades de expansão, merecem algumas considerações. Comecemos pelo fumo: a eliminação do tráfico de escravos tornara perdido o mercado africano, e o produto teve que ser orientado para outras regiões. No caso dos couros, a produção do Rio da Prata avançava cada vez mais, em disputa pelo mercado; em relação ao arroz, a produção dos Estados Unidos experimentava inovações nos métodos de cultivo, e quanto ao seu uso, apenas começava a vulgarizar-se.
A solução, conforme o Prof. Celso Furtado, teria de vir de um produto de exportação, em cuja produção entrasse como fator básico a terra, o que acaba definindo pela metade do século, o café como um produto que, relativamente novo, possuía características de produção correspondentes às condições ecológicas do Brasil. É preciso notar que o café fora introduzido no Brasil em começos do século XVIII, porém fora cultivado em todas as partes com a finalidade de consumo local, somente assumindo importância econômica ao final do Dezoito pela desorganização da antiga colônia francesa que era o Haiti, o que veio a causar a alta de preços.
Como já foi colocado anteriormente (2ª parte deste estudo), o café veio a firmar-se nos anos trinta do Dezenove, como principal elemento da pauta de exportações brasileira, o que equivaleria dizer que no primeiro decênio da independência contribuía com dezoito por cento das exportações brasileiras, atrás apenas do açúcar e do algodão.
Nos dois decênios seguintes atinge o primeiro lugar, passando a representar mais de quarenta por cento das exportações. Neste aspecto é assim esclarecido por Furtado: “todo o aumento que se constata no valor das exportações brasileiras, no correr da primeira metade do século passado, deve-se estritamente ao café.”
Concentrado inicialmente na região montanhosa próxima da capital do país, a cultura do café pôde contar com: 1- relativa abundância de mão-de-obra, pela desagregação da economia mineira; 2- proximidade do porto, que solucionava o problema do transporte , lançando mão dos lombos das mulas.
Essa primeira fase de expansão da economia cafeeira, conforme frisou Furtado, foi realizada com base em aproveitamento de recursos preexistentes, os quais encontravam-se subutilizados. Ocorria um período de elevação de preços a nível mundial, determinando a expansão da produção na América e na Ásia, à qual se sucedeu um período de preços declinantes estendido pelos anos trinta e quarenta do Dezenove. O que não serviu para desencorajar os produtores brasileiros, os quais utilizavam-se de recursos produtivos semi-ociosos, pela decadência da mineração, e a quantidade exportada mais que quintuplica entre 1821-1830 e 1841-1850, com os preços médios reduzidos em cerca de quarenta por cento nesse período.
O segundo e terceiro quartéis do Dezenove foram a base da gestação da economia cafeeira, da utilização intensiva da mão-de-obra escrava, mas também da formação de uma nova classe empresária que desempenhará papel fundamental no desenvolvimento subseqüente do país.
Se a utilização intensiva da mão-de-obra escrava aproximava a economia cafeeira da sua congênere do açúcar, tinha por vantagem inicial um grau de capitalização muito mais baixo do que esta última, pois baseada mais amplamente na utilização do fator terra, possuindo necessidades monetárias de reposição muito menores, sendo o equipamento mais simples e quase sempre de fabricação local.
Além do mais, organizada com base no trabalho escravo, a empresa cafeeira se caracterizava por custos monetários ainda menores que os da empresa açucareira. Assim, em razão da abundância de terras, somente uma forte alta nos preços da mão-de-obra poderia interromper o seu crescimento, o que explica seu crescimento mesmo sob uma tendência de preços pouco favorável. A recuperação dos preços do café ao terceiro quartel do século, associado à continuidade da depressão nos preços do açúcar criava uma forte pressão no sentido da transferência de mão-de-obra do norte para o sul do país.


(Continua...)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Economia Brasileira no Século XIX (2ª Parte)


(Continuação)

A Economia Brasileira no Século XIX – Parte 2

Se as alterações no cenário político europeu serviram para acelerar as mudanças políticas no Brasil, suas repercussões contribuíram para prolongar as dificuldades econômicas que haviam surgido com a decadência da mineração. Portugal estava ocupado por tropas francesas e o antigo entreposto do comércio colonial, que era Lisboa, teve que ser substituído pelo contato direto da Colônia com os mercados ainda acessíveis.
De uma conjuntura como essa surgiram os Tratados de 1810, nos quais a Inglaterra foi transformada em potência privilegiada, com direitos de extraterritorialidade e tarifas preferenciais a níveis extremamente baixos, o que na avaliação de Celso Furtado se constituiu em séria limitação à autonomia econômica do governo brasileiro durante toda a primeira metade do Dezenove. A Abertura dos Portos de 1808 e os Tratados de 1810, constituem juntamente com a autonomia política de 1822 e a consolidação da posição inglesa (1827), os marcos fundamentais dos grandes acontecimentos políticos.
Na análise de Celso Furtado, a tensão que irá perdurar, por toda a primeira metade do século XIX entre o governo britânico e a classe dominante brasileira – a qual ascende ao poder em definitivo em 1831 após eliminar o poder pessoal de Dom Pedro I – não encobria nenhuma séria contradição de interesses. O foco dos questionamentos do Prof. Furtado encontram-se fixados em torno da liberdade de ação efetiva em questões de desenvolvimento econômico, que o governo gozava no pós independência.
A independência brasileira havia se processado sem desgaste de maiores recursos, assumindo a antiga colônia a responsabilidade de parte do passivo que contraíra Portugal para sobreviver como potência colonial. Caso a independência brasileira tivesse resultado de uma luta prolongada, dificilmente a integridade territorial teria sido preservada, pois os interesses regionais constituíam uma realidade muito mais palpável que a unidade nacional, a qual só começou a produzir efeitos quando a Corte portuguesa se transferiu para o Rio de Janeiro.
Não existia sequer uma classe comerciante de importância na Colônia, e o grande comércio tinha sido até então, monopólio da metrópole, resultando que a única classe com expressão era a dos grandes senhores agrícolas. De onde Furtado afirma: “qualquer que fosse a forma como se processasse a independência, seria essa classe a que ocuparia o poder...”. Dessa forma, ficava caracterizada a Colônia como uma grande plantação de produtos tropicais, intimamente integrada nas economias européias, das quais dependia, não constituindo sistema autônomo, sendo simples prolongamento de outros maiores.
Estes fatos autorizam o autor afirmar que os conflitos ocorridos entre a classe dominante brasileira, localizada então na grande agricultura, e a Inglaterra, não tiveram origem em discrepâncias de ideologia econômica, mas da falta de coerência, segundo Furtado, com que os ingleses seguiam a ideologia liberal; esta aplicada unilateralmente, passou a criar sérias dificuldades à economia brasileira, na fase em que a classe de grandes agricultores começava a governar o país
Colocados estes condicionamentos, em que termos efetivos estaria o Brasil recén emancipado, prejudicado em seu desenvolvimento econômico, em face do privilégio aduaneiro concedido à Inglaterra, e posteriormente uniformizado na tarifa ao nível de 15% ad valorem? Ora, explica Furtado, que o imposto às importações trata-se do instrumento comum com que os países de economia primária-exportadora arrecadam suas receitas básicas. Excetuado esse expediente, restaria a alternativa de taxar as exportações, o que em uma economia escravista significa reduzir ou cortar os lucros da classe dos senhores da grande agricultura. Em uma época de estagnação do comércio exterior, sérias dificuldades estavam postas ao governo brasileiro, e o autor lembra sobre a quase inexistência de um aparelho fiscal no país, o que fazia crescer em importância o papel das aduanas como fonte de receita e meio de subsistência do governo. O governo central encontrou-se em sérias dificuldades financeiras para desempenhar suas múltiplas funções na etapa de consolidação da independência.
Em meio a tantas dificuldades, começa o café a despontar como nova fonte de riqueza para o Brasil, firmando-se já nos anos trinta do Dezenove como principal elemento da pauta de exportações brasileira. Em razão desse produto se forma um sólido núcleo de estabilidade na região central mais próxima da capital do país, o que na avaliação do Prof. Furtado, se constituiu em verdadeiro centro de resistência contra as forças de desagregação que atuavam de norte a sul.
Para Furtado, a principal causa do grande atraso relativo da economia brasileira na primeira metade do século XIX foi o estancamento de suas exportações e todo o aumento das exportações no período referido deve-se ao café, com produção concentrada nas áreas próximas da Cidade do Rio de Janeiro. Na primeira metade do século XIX a condição básica para o desenvolvimento da economia brasileira era a expansão das exportações, leia-se produtos primários, pois fomentar a industrialização nessa época sem o apoio de uma capacidade para importar em expansão, seria tentar o impossível em país totalmente carente de base técnica. Dom João VI tomara iniciativas de indústria siderúrgica que acabaram fracassando porque o mercado para produtos siderúrgicos à época, era praticamente inexistente.
Face a todas estas limitações, superar a etapa de estagnação, então enfrentada, conduzia necessariamente o Brasil para a reintegração nas linhas em expansão do comércio internacional, única saída para um país sem técnica própria e onde não se formavam capitais que pudessem ser desviados para novas atividades, e lembra Furtado que desenvolvimento interno só se torna possível quando o organismo econômico alcança um determinado grau de complexidade, que se caracteriza por uma relativa autonomia tecnológica. Os poucos empréstimos externos, contraídos na primeira metade do século, acabaram por agravar ainda mais a precária situação fiscal da jovem nação, tendo objetivos improdutivos.
Com as exportações estagnadas, o governo impossibilitado de aumentar o imposto às exportações, o serviço da dívida externa criava sérias dificuldades fiscais, contribuindo para reduzir o crédito público. Porém, a corrente de capitais do século XIX – anotou Celso Furtado – era principalmente de inversões indiretas, o que equivale a dizer que para levantar recursos nos mercados de capitais era necessário apresentar projetos com perspectivas muito atrativas, ou oferecer garantias de juros subscritas por quem tivesse o necessário crédito. Assim, Furtado pergunta: que crédito poderia ter o governo de um país de economia em decadência e cuja capacidade para arrecadar impostos estava cerceada?
A solução, nos apresenta o Prof. Celso Furtado, seria que a economia, antes de contar com a cooperação do capital estrangeiro, deveria primeiro retomar o crescimento com seus próprios meios. Devemos então passar novamente em revista, a pauta de exportações brasileiras em época na qual a economia cafeeira foi gestada. A terra constituía-se no único fator de produção abundante no país, onde capitais praticamente não existiam e a mão-de-obra era basicamente constituída por um estoque de pouco mais de dois milhões de escravos, parte substancial dos quais permaneciam imobilizados na indústria açucareira ou prestando serviços domésticos.

(continua...)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A Economia Brasileira no Século XIX (1ª Parte)




Economia de Transição para o Trabalho Assalariado (Século XIX). In: FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.

Dos textos indicados como “Bibliografia Sugerida”, encontra-se neste clássico do Prof. Celso Furtado o subitem 4.1. A economia brasileira no Século XIX, inserido no item 4, Economia Brasileira do programa de Noções de Economia do CAD. Está colocado que este pequeno esforço da nossa parte não esgota o que poderá ser exigido do candidato, dado o alto nível do concurso, porém servirá para apontar caminhos futuros.Interessa conhecer algo sobre o autor de Formação Econômica do Brasil. Nascido na Paraíba, em 1920, mudou-se em 1939 para o Rio de Janeiro, ingressando no ano seguinte na Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tendo concluído o bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais em 1944, mesmo ano em que foi convocado para integrar a Força Expedicionária Brasileira (FEB), servindo na Itália. Em 1946, ingressou no curso de doutoramento em economia da Universidade de Paris-Sorbonne, concluído em 1948 com uma tese sobre a economia brasileira no período colonial. Em 1949, mudou-se para Santiago do Chile, integrando a recém-criada Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), órgão das Nações Unidas. Sob a direção do economista argentino Raúl Prebisch, a CEPAL se tornaria naquele período um importante centro de debates sobre os aspectos teóricos e históricos do desenvolvimento.Na década de 1950, Furtado presidiu o Grupo Misto CEPAL-BNDES, que elaborou um estudo sobre a economia brasileira que serviria de base para o Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek. Mais tarde, é convidado para o King's College da Universidade de Cambridge, Inglaterra, onde escreveu Formação Econômica do Brasil. O Professor Celso Furtado faleceu em 2004.
Ao final do período colonial – último quartel do século XVIII - a Economia Brasileira apresentava-se, observada em conjunto, nas palavras de Celso Furtado, como uma constelação de sistemas. Se alguns desses sistemas conseguiam articulação entre si, outros permaneciam praticamente isolados. Tais articulações se operavam em torno de dois polos principais, a saber, as economias do açúcar e a do ouro.
Ao núcleo açucareiro articulava-se, ainda que de forma cada vez mais frouxa, a pecuária nordestina. Ao núcleo mineiro articulava-se o hinterland pecuário sulino, que abrangia terras de São Paulo ao Rio Grande. Para Furtado, a ligação frouxa desses dois sistemas seria o Rio São Francisco, cuja pecuária oscilava, em face da meia distância entre o Nordeste e o Centro-Sul para o mercado que ocasionalmente oferecesse maiores vantagens. Ao Norte encontravam-se os dois centros autônomos do Maranhão e do Pará. Quanto ao Maranhão, cumpre anotar que apesar de constituído como sistema autônomo, articulava-se com a região açucareira através da periferia da pecuária nordestina. Neste caso, o Pará encontrava-se efetivamente como único núcleo totalmente isolado, vivendo exclusivamente da economia extrativa florestal organizada pelos jesuítas com base na exploração da mão-de-obra indígena, sistema que não pagava impostos e que entrara em decadência com a perseguição movida pelo Marquês de Pombal.
Furtado avaliou que dos três sistemas – a faixa açucareira, a região mineira e o Maranhão – os quais ligavam-se de maneira fluída e imprecisa por meio do hinterland pecuário, apenas o Maranhão conheceu uma prosperidade efetiva naquele último quartel do Dezoito. Seus colonos, adversários tradicionais dos jesuítas na luta pela escravização dos índios haviam sido ajudados pela criação de uma Companhia de Comércio altamente capitalizada, sendo que a ajuda financeira permitiu a importação em grande escala de mão-de-obra africana. Naquele contexto, o Maranhão foi ainda beneficiado pela modificação no mercado mundial de produtos tropicais (sobretudo o algodão e o arroz), em face da Guerra de Independência dos EUA e pela Revolução Industrial Inglesa.
Contudo, com a desarticulação da produção açucareira da então colônia francesa do Haiti – onde quase meio milhão de escravos lá concentrados revoltaram-se em 1789, destruindo parte da riqueza ali acumulada – abrira-se para o Nordeste açucareiro nova etapa de prosperidade, fazendo mais que duplicar no período da Guerras Napoleônicas, o valor das exportações de açúcar. Com a atividade industrial inglesa, de elevado consumo de algodão, tanto o Maranhão, quanto o Nordeste passam a dedicar-se com mais ênfase na produção desse artigo,o que somado às dificuldades enfrentadas pelas então colônias espanholas passam a repercutir de certa forma ainda mais no mercado de produtos tropicais e couros. A Colônia portuguesa na América experimenta então, entre os anos oitenta do Dezoito e o fim da era colonial, uma prosperidade precária, fundada em condições de anormalidade do mercado mundial de produtos tropicais.

( Continua...)