Sejam Benvindos ao Blog Estudos Diplomáticos !

Este espaço foi criado para reunir conhecimentos acadêmicos e informações relacionadas ao Concurso para ingresso no Instituto Rio Branco.



quarta-feira, 26 de maio de 2010

Política Internacional: Quinhentos Anos de Periferia (Parte VII)



(Continuação...)

Anotou Samuel Pinheiro Guimarães, que uma das principais conseqüências da aceleração do progresso científico e tecnológico é o vasto processo de reorganização do sistema produtivo - no centro - e, em especial, nas sociedades periféricas semi-industrializadas, os países que antes eram chamados de new industrializing countries. Para Samuel Pinheiro, cumpre ressaltar que o sistema econômico está passando por uma profunda reorganização em todos os setores de atividade, porém com velocidades distintas, tanto entre setores, como entre as empresas de um mesmo setor. Essa reorganização corresponde de certa forma, a um novo paradigma para o funcionamento do sistema produtivo (em substituição ao “fordismo”), com base, fundamentalmente em constantes avanços no campo da informática, processo muito acelerado com o surgimento do microchip, a miniaturização, e a conseqüente redução, pela constância dos avanços dos custos e dos preços dos equipamentos eletrônicos. Os avanços no sistema produtivo encontram-se a partir da sua base da informática, bastante imbricados às telecomunicações , com reduções aceleradas de custos e aumentos constantes da capacidade de operação. Basta lembrar que equipamentos eletrônicos, armazenam instruções de comando, o que faz com que as operações de produção ocorram naturalmente com maior precisão que a dos sistemas eletromecânicos, reduzindo desperdícios, defeitos de fabricação e custos unitários de produção. Neste sentido, os principais impactos da reorganização produtiva (fragmentação de unidades produtivas em diversas subunidades mais próximas da matéria-prima mas também do mercado consumidos, flexibilização ou “customerização” enquanto capacidade de adaptar linhas de produção de forma rápida e a baixo custo, atendendo a segmentos específicos do mercado, ou ainda, a expansão vertiginosa da capacidade de cálculo, processamento paralelo de dados e simulação de experiências. Finalmente, encontramos as práticas e métodos gerenciais, os quais impactaram a multiplicação da capacidade, velocidade e simultaneidade de processamento de informação, as técnicas de redução de estoque como o just in time e a criação de redes de especialistas e de equipes de trabalho à distância.).
A reorganização promovida pelos avanços da informática produziu impactos nos mercados de produtos, estando entre os mais relevantes: 1. a redução do ciclo de vida dos artigos, pela aceleração de sua substituição por novos produtos; 2. a possibilidade das organizações empresariais atingirem maiores dimensões, reduzindo o número de empresas em cada mercado; 3. em conseqüência do item anterior, há um favorecimento à oligopolização crescente de mercados, com seus efeitos sobre preços, eficiência de alocação de recursos e “exploração” do consumidor.
Quanto aos mercados de trabalho, assumem maior impacto, principalmente: 1. a mudança acelerada nas proporções trabalho/capital nos sistemas de produção e de gerenciamento e os conseqüentes desequilíbrios mais rígidos entre oferta e demanda nos diversos mercados setoriais de mão-de-obra, o que corresponde aos desemprego “estrutural”; 2. as características de habilitação exigidas pelas novas e cambiantes tecnologias e as alterações que provocam nas atividades de produção levam a um desequilíbrio entre as estruturas (sistema produtivo) e os métodos do sistema de formação de mão-de-obra (sistema educacional).
O autor cita ainda que no caso dos mercados de capital, a informática e as telecomunicações foram e são essenciais para a globalização, pois: 1. tornaram possível a unificação, em tempo real, dos distintos mercados financeiros em todo o mundo; 2. em conseqüência do item anterior, as mudanças propiciaram a crescente volatilidade dos movimentos de capital, com profundos efeitos desestabilizadores, sobretudo para as economias mais frágeis.
Porém, nos lembra o autor, que há mais. Pois a biotecnologia e a engenharia genética tenderão a ter impacto e importância semelhante pelos seus efeitos diretos sobre o maior desejo do ser humano, que é a imortalidade. A biotecnologia e a engenharia genética permitem o aumento da longevidade pela redução do ritmo de envelhecimento, pelo transplante de órgãos, pela clonagem, etc... Além, disto, a biotecnologia e a engenharia genética afetam a agropecuária de forma profunda ao permitir o desenvolvimento de espécies vegetais resistentes a pragas e doenças, mas também de espécies mais produtivas pela aceleração do ritmo de reprodução vegetal, adaptação de espécies a climas e solos normalmente a elas adversos e a clonagem de animais. Toda esta gama de inovações, assinala o autor, vêm reduzir as vantagens comparativas naturais dos países subdesenvolvidos, na medida em que permitem a produção eficiente em áreas antes não competitivas, inclusive nos países mais desenvolvidos do centro.
Cumpre ainda incluir nesse imenso rol de inovações da informática e da biotecnologia, os novos materiais que substituem produtos tradicionais como é o caso do cobre, substituído pela fibra óptica, a cerâmica utilizada em motores, e dos setores de ponta dos satélites e naves espaciais.
A reorganização produtiva contribui, segundo Samuel Pinheiro Guimarães, para fortalecer as empresas de maiores dimensões, com maior flexibilidade e que atuam em vários territórios, as quais passam a pressionar pela unificação de normas jurídicas e, portanto, pela formação de territórios econômicos e, eventualmente, políticos, mais amplos. A vasta reorganização em curso do sistema produtivo, defende o autor, acentua a concentração de poder em todos os aspectos.


(Continua...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário