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domingo, 14 de novembro de 2010

O Mundo necessita de um "novo Bretton Woods"?


Ficamos acostumados a comparar a crise de 1929 com a de 2008, um pouco sob o estímulo de jornalistas, editores e articulistas, estes - mesmo os de talento - por vezes sugados em meio ao turbilhão, compelidos ou mesmo pressionados a contribuir “em tempo real”, o que causa muitas vezes a tentação de produzir relações silogísticas, quase sempre apaixonadas (e quase nunca calcadas em consistente análise econômica) por comparações entre crises separadas por cerca de oitenta anos. Talvez, com o auxílio de alguns escritos do Paulo Roberto de Almeida, possamos iniciar nosso esclarecimento, a partir da dinâmica seguida pela crise de 1929.
Em 1929, a crise foi iniciada a partir dos EUA, tendo como processo associado o final da expansão continuada do pós-Primeira Guerra.

Até 1925 a especulação fora com terras, assumindo as ações em bolsa o objeto da especulação nos anos 1928-1929. A expansão monetária deu-se a partir de ações compradas na margem, com pico especulativo em setembro de 1929. Como sabemos, as quebras bancárias e o pânico financeiro ocorreram em outubro de 1929. À época, o emprestador de última instância foram as operações no mercado aberto do Federal Reserve de NY.
Em 2008, conforme logo ficou claro, o processo associado foi a exacerbação do crédito imobiliário, cuja propagação se deu via derivativos nos demais mercados. A especulação anterior, dessa vez não foram as terras (como nos anos 1920), mas as hipotecas subprime, derivativos e ativos financeiros (sobretudo ações) sobrevalorizados. A expansão monetária teve como instrumentos financeiros, ativos ultra-alavancados. O pico especulativo ocorreu entre os anos 2003-2007, por ( e isto é muito importante!...) um descuido ou se quisermos, um “cochilo” do Federal Reserve e das rating agencies, hipótese fundamentada, mas que em uma economia que acostumou a se auto-rotular como de risco “zero”, sempre se corre o risco de aparecer pintada como uma heresia a tentativa de comprovação. Então, ocorreram as quebras bancárias que assistimos nos EUA, a partir do segundo semestre de 2007, a setembro-outubro de 2008, com disseminação na Europa e Japão em 2008. Na crise de 2008, os emprestadores de última instância ( e isto também é muito importante!...) foram os bancos centrais dos principais países desenvolvidos, além dos países emergentes.
Ora, sabemos que foi através da entrada no primeiro grande conflito mundial, que os Estados Unidos foi alçado à condição real de grande potência. Até a Guerra, os EUA, apesar da sua grande capacidade industrial, era um país periférico e devedor em cerca de 17 Bilhões de Libras à Inglaterra. O final do conflito invertera o jogo a favor dos Norte-Americanos, fazendo destes os credores em 17 Bilhões, conforme os dados de Michel Beaud em sua 'História do Capitalismo'. A Guerra proporcionou aos EUA, essa ascensão, atrasando o caminho do “Estado Contestador” que era à época, a Alemanha do Kaiser. A Guerra deu expansão continuada, como dissemos acima aos EUA, até que a especulação envolvesse o agora principal centro do capitalismo em uma crise mundial, de efeitos catastróficos para uma geração inteira de norte-americanos. O Segundo Grande Conflito Mundial (1939-1945), apresentando mais uma vez a Alemanha como Estado Contestador, agora ao lado de potências vencedoras, mas insatisfeitas na I GM, como a Itália e o Japão, deu oportunidade aos EUA de reconstruir ao seu gosto, e logicamente ao seu favor, até por falta de outras opções exequíveis, a Ordem Econômica Mundial. O Sistema de Bretton Woods foi formado como um complexo de instituições, sistema que deveria seguir, nas palavras de Robert Gilpin, vários princípios fundamentais, entre eles, frisamos, estava a liberalização do comércio, liberdade para a movimentação de capitais, além de taxas de câmbio que deveriam ser fixas ou vinculadas, cujas mudanças de vulto deveriam ser objeto de consulta ao FMI. Faziam então parte do Sistema de Bretton Woods, dois regimes internacionais, encarnados em instituições. O já citado FMI, criado na intenção de administrar o sistema monetário internacional com base em taxas de câmbio fixas mas ajustáveis ( atuando ao lado do Banco Mundial, o BIRD ) e o acordo geral para tarifas e comércio (GATT), desenvolvido para gerir o sistema internacional de comércio. Como sabemos, intrínsecamente garantidor dessa ordem econômica, estava os Estados Unidos, com o seu dólar padrão-ouro. A não conversibilidade do dólar foi decretada pelo Governo Nixon, ainda em 1971. Não obstante, as máquinas da casa da moeda norte-americana trabalhem incessantemente, os EUA emitem títulos da dívida pública e continuam a ser financiados pelo exterior. A OMC, surgiu a partir da Rodada Uruguai do GATT, em 1995. Pensando bem, então, diríamos que Bretton Woods já foi bastante reformado, e que a auto-confiança norte-americana, ao lado de uma boa dose de irresponsabilidade de algumas de suas instituições oficiais e oficiosas ajudaram a causar a bolha especulativa e o terror financeiro. E como era de se esperar, os Bancos Centrais das Economias Desenvolvidas, mas também as emergentes lastrearam o esboço de recuperação econômica a nível mundial. Seriam então as auditorias sobre a maior economia do mundo que deveriam se tornar o maior foco da continuidade de uma reforma do Sistema, que entendemos, já vem sendo realizada há algumas décadas.
(Na foto acima, detalhe da Conferência de Bretton Woods, 1944)

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