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sábado, 31 de outubro de 2009

A Guerra de Secessão (Parte III)



A Guerra de Secessão ( Parte III )

(...Continuação)

Afinal, ao capitalismo do Norte, dado que o abolicionismo militante por si só não era suficientemente forte para determinar a política da União, caberia ter achado, segundo Hobsbawm, qualquer que fossem os sentimentos privados dos homens de negócios, um meio de chegar a um bom termo com o Sul escravista e explorá-lo, ainda que houvessem sinais que as sociedades escravistas estivessem com os dias contados. Por sua vez, Paul Kennedy põe em evidência a pujança econômica norte-americana mesmo antes da Guerra Civil. Com efeito, o gigante econômico que havia se tornado os Estados Unidos, seria ocultado apenas, segundo Kennedy, por fatores como a distância da Europa, a concentração no desenvolvimento interno ( e não no comércio exterior), e a natureza acidentada do interior.
A verdade é que os EUA haviam, em 1860, superado a produção mundial de manufaturas da Alemanha e da Rússia, estando ainda na iminência de alcançar a França, embora estivesse bem atrás da produção britânica. Em breve, toda essa capacidade manufatureira iria ser canalizada contra o Sul, em uma luta fratricida que faria mais vítimas que a soma do total sofrido, já no século XX, pelas tropas norte-americanas nas duas Guerras Mundiais e na Coréia, com a agravante de ter sido suportada por uma população muito menor.
O que trouxe o Sul para uma situação de crise, defende Hobsbawm, foi um problema específico: a dificuldade de coexistência com um capitalismo dinâmico no Norte, e um dilúvio de migração para o Oeste. Nas palavras desse historiador, o Sul dos Estados Unidos era, à época, uma virtual semicolônia inglesa, região agrária não envolvida pela industrialização e com a qual o Norte não estava muito preocupado em termos puramente econômicos. As principais disputas seriam, seguindo essa linha de pensamento, políticas, o que equivaleria dizer que o Sul achava vantajoso o mercado livre, pois supria a maior parte do algodão que a indústria inglesa precisava, ao passo que o Norte encontrava-se comprometido há muito tempo com tarifas protecionistas, na salvaguarda dos interesses da sua indústria, porém incapaz de impô-las de forma adequada por causa dos interesses do Sul.
O Sul acabaria dessa forma, por se tornar um obstáculo ao Norte, ao prosseguir na sua política expansionista em direção do Oeste, pois a extensão formal da escravidão aos novos Territórios e Estados era crucial para o Sul, ao mesmo tempo que era irrelevante para o Oeste. De onde se autoriza a revestir, como pretende Paul Kennedy, de uma grande relevância o papel das lideranças envolvidas no conflito, sua disposição de lutar até o fim, convocando para isto, centenas de milhares de homens para uma guerra que ameaçava ser prolongada. Concorreram para tal prolongamento, as grandes distâncias existentes, com uma “frente” que ia do litoral da Virgínia até o Mississipi, e ainda mais para o Oeste, até o Missouri e Arkansas, em áreas de florestas, pântanos ou montanhas. Essas grandes distâncias também existiam no mar, pois para impor um bloqueio naval aos portos do Sul, as forças da União teriam de operar em uma área tão extensa quanto o litoral que vai de Hamburgo a Gênova. Para usarmos da expressão de Paul Kennedy, a guerra seria necessariamente de grande escala.
(Na imagem acima, uma ilustração do Plano Anaconda, de bloqueio econômico ao Sul)
(Continua...)

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