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sábado, 31 de julho de 2010

Uma traumática transição: ainda o fim da Guerra Fria


A chamada "Segunda Guerra Fria" de Reagan-Bush (pai), juntamente com a crise e a desagregação do chamado "Bloco Soviético", são assuntos "quentes" por alinhavarem a Nova Ordem surgida na década de 1990. Um texto que ainda se impõe por emprestar inteligibilidade a todo esse processo, é a Era dos Extremos, de Eric Hobsbawm. Este pequeno texto, escrito de forma livre e sem anotações quanto a referências bibliográficas é colocado como uma pequena contribuição ao estudo desses temas.

Algumas Achegas sobre as Incertezas e Complexidades das Relações Internacionais, ou "Como a década de 1980 gerou a Nova Ordem Mundial"

A nova agenda internacional inaugurada nos anos iniciais da década de 1990 foi diretamente tributária dos acontecimentos surgidos a partir de 1980, ano no qual o presidente norte-americano Ronald Reagan, ator canastrão de filmes classe “B” das décadas de 1940 e 1950, e depois convertido, após o macartismo, a republicano e anticomunista ferrenho, a político sério com pretensões de estadista. Reagan imprimiu na sua administração os contornos daquilo que ficaria conhecida como a “nova guerra fria” a qual durou de 1980 a 1991. O “criativo” presidente que reutilizou a expressão “Império do Mal”, resgatando-a das histórias de Flash Gordon para utilizá-la em relação à União Soviética, não estava sozinho nesse novo papel, pois tinha na Europa, a conservadora Margaret Hilda Thatcher, primeiro-ministra britânica de 1979 a 1990. Com a eleição de um Papa polonês, o sempre sobrevalorizado – “por se manter fiel às raízes da Igreja e ao tempo presente” - Carol Woithila (João Paulo II), estavam pré-roteirizadas as propostas de desfecho, a nível superestrutural, para diversos eventos a ocorrer ao longo da década, os quais seriam considerados absurdos ao início da década de 1980. Reagan fazia com que seu governo atuasse em todas as frentes possíveis: o boicote às Olimpíadas de Moscou, onde de forma acertada e estratégica - se levarmos em conta apenas a 'razão de Estado', retirara parte do brilhantismo da peça de propaganda preparada pelos russos, o fazendo no entanto sob a desculpa da invasão russa ao Afeganistão, um ano antes. Reagan suspendera concessões unilaterais da administração Carter, endurecendo as relações com a URSS, e direcionando o Departamento de Estado e Defesa para o confrontacionismo, além de mover toda a administração norte-americana para o bloqueio econômico e tecnológico – em uma era na qual os microchips substituíam as antigas válvulas. O nunca executado projeto conhecido como “Guerra nas Estrelas”, a ambiciosa construção sobre o território norte-americano de um escudo anti-mísseis, selaria a sorte da corrida armamentista, e a URSS, desgastada ideologicamente e minada em termos econômicos, perdia a sua legitimidade nos países sob sua égide, e não conseguiria nem mesmo intervir diretamente no seu satélite polonês, colocado em estado de quase rebelião pelo sindicato Solidariedade. O sistema bipolar de organização do mundo, emergido ao final da II Guerra Mundial deixaria de existir pela simples dissolução de uma das superpotências, a URSS. Conseqüência imediata dessa transformação, seria que todos os países do Leste Europeu sob a influência soviética, constituintes da antiga “cortina de ferro”, e submetidos há quase seis décadas a um sistema de partido único e capitalismo de Estado, passavam após um rápido processo de revoluções-relâmpago, a integrar o sistema de economias de mercado. A única superpotência global, os EUA, colhidos de surpresa no meio de toda esta crise de poder, como o Departamento de Estado norte-americano mais tarde veio a admitir, não possuía as condições de estruturar por si próprio, uma nova ordem mundial. Abria-se espaço para a era da Globalização, do Consenso de Washington, da desregulamentação e abertura unilateral de mercados nos países em desenvolvimento, sob a ilusão da falácia de uma “smithisoniana mão invisível do mercado”, que na realidade, ainda que de forma “não invisível”, acabava por fazer fluir de maneira unilateral, e sob a desculpa das chamadas “vantagens comparativas” e de uma nunca admitida tentativa de reativação da antiga divisão internacional do trabalho, todos os benefícios da globalização para as economias dos chamados países capitalistas centrais. Restava ainda os diversos países e antigas colônias periféricas sob a antiga influência de americanos ou soviéticos. A descolonização e a retirada de apoio, mas não das armas fornecidas, a diversos regimes em países periféricos, serviu pelo abandono e falta de perspectivas, como combustível a alimentar ressentimentos contra o Ocidente – no caso do fundamentalismo islâmico – ou contra aqueles que tem os “olhos azuis e pele clara” em outras partes do mundo.

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