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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

História Mundial: Algumas consequências da II Guerra Mundial para as Relações Internacionais do Século XX





Algumas Consequências da II Guerra Mundial para as Relações Internacionais do Séc XX


Antonio Carlos Figueiredo

Um ligeiro esboço das condições que tornaram possíveis a emergência da II Guerra Mundial nos ajuda a pensar, a partir do núcleo duro das causas centrais daquele grande conflito, o arsenal de instituições das quais a comunidade de nações se armou a partir de 1945. Nossa estratégia então será pensar na gênese das instituições criadas após 1945, com o objetivo de modelar o mundo quanto à segurança coletiva, à ordem econômica, mas também sob aspectos voltados à cooperação internacional. Talvez um bom começo passe pelas deficiências demonstradas pela Sociedade ou Liga das Nações. Da sua fragilidade, pela não participação dos Estados Unidos da América, recolhidos ao isolacionismo sobretudo quando se tratasse de problemas europeus, e da União Soviética – até 1934 – voltada para si mesma no intuito de consolidar o socialismo – ao mesmo tempo em que geria a III Internacional – foi tornado possível a Hitler, na Europa, a Mussolini, no Adriático, e à casta militar japonesa sob Hiroíto, atuarem livremente, à revelia e mesmo fazendo uso de expedientes da Liga, como fez Hitler, ao retirar-se de uma Conferência de desarmamento promovida em 1933, e culpando por isso, naturalmente, a França, então envolvida em um ambicioso programa de rearmamento. Tentou Hitler tornar legítimo o rearmamento alemão em 1934, preparando a Alemanha para uma guerra que, assim esperava, deveria ocorrer a partir de 1940, e que, também assim esperava, deveria dar a vitória à Alemanha ainda antes do término de 1942.
Foi da fracassada experiência da Liga das Nações, e com base nos ensinamentos por esta trazidos, que foi proposta a criação de um novo sistema de segurança coletiva que garantisse a paz, obrigando todos os Estados a com ele se comprometer, no que estes deveriam renunciar ao uso da força, aceitar as fronteiras estabelecidas, e a cada um, a possibilidade de se organizar, política e economicamente, como lhe conviesse. A origem das Nações Unidas é a Carta do Atlântico, de 1941, na qual estavam delineados os objetivos do pós-guerra dos Aliados envolvidos na luta contra o Eixo. A Conferência de Moscou, em 1943, decidiu criar uma organização internacional para “preservar a paz e a segurança”. O projeto de Carta das Nações Unidas foi preparado pelo Departamento de Estado Norte-Americano, e examinado em Dumbarton Oaks (1944) pelas quatro potências patrocinadoras, a saber, os EUA, o Reino Unido, a China e a União Soviética. Potências, é verdade, mas como avaliou Samuel Pinheiro Guimarães, portadoras de condições extremamente desiguais. A proposta de Dumbarton Oaks foi levada à Conferência de São Francisco, em 1945. Junto com a aprovação da igualdade soberana dos Estados, que a exercem na Assembléia Geral, cujas resoluções não são mandatórias. Nela está o conceito de segurança coletiva, sob a tutela do Conselho de Segurança, que é independente em suas decisões, e que não presta contas nem a Assembléia, nem a qualquer outro organismo. Esse Conselho era originariamente composto de onze membros, sendo cinco permanentes com direito a veto, decidindo por minoria de sete, com a participação concorrente e imprescindível dos cinco membros permanentes. A atribuição do poder de veto aos cinco membros permanentes (EUA, Reino Unido, França, China e URSS), foi justificada no memorando explicativo das Quatro Potências Patrocinadoras, como decorrentes de sua primary responsability na manutenção da paz. Após a entrada em vigor da Carta das Nações Unidas, e da instalação do Conselho de Segurança, revela-se o que já estava em gestação: o rompimento entre EUA e URSS, que dará início à Guerra Fria.
Porém o mundo que emergiu da II Guerra Mundial, a par das instituições de segurança coletiva criadas, incluía ainda um novo modelo de política internacional que ficou conhecido como sistema de zonas de influência de raio planetário, caracterizado pela existência das duas superpotências, por si só também, praticamente atores novos, pois atuariam em uma nova ribalta: EUA e URSS.
Contudo, convém lembrar o papel cumprido pela recessão e crises econômicas no entre-guerras, e era necessário que fosse erguido também, um modelo de Ordem Econômica Internacional. O chamado sistema de Bretton Woods (1944), baseado em um esquema de paridades cambiais fixas, porém ajustáveis, fundamentadas no ouro-dólar, tornada a moeda forte na economia mundial. Anotou o Prof. Eric Hobsbawm que a supremacia americana era à época, um fato. A lembrança eram as lições da Grande Depressão, que tanto haviam contribuído para que acontecesse a radicalização política que levou o nazi-fascismo ao poder na Europa. E se em relação à nova ordem econômica a pressão política por ação vinha de Washington, mesmo quando muitas idéias e iniciativas partiam da Inglaterra, nomeadamente de J. M. Keynes. Sobre a criação final do FMI, os EUA prevaleceram. As duas únicas instituições internacionais de fato criadas sob os acordos de Bretton Woods de 1944, o Banco Mundial (Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento) e o FMI (Fundo Monetário Internacional), acabaram por tornar-se de fato, subordinadas à política americana. Sobre Bretton Woods, conforme escreveu Paul Kennedy, o sistema de paridade funcionou bem (a partir de 1945), quando os EUA eram financeiramente supremos, para desabar em 1973, momento em que seu principal pilar, não pôde suportar as tensões. No pós-guerra, o FMI e o Banco Mundial passavam a ser os vetores do investimento internacional, e a manter a estabilidade do câmbio, além de tratar de problemas de balança de pagamento, com atuação destacada nas crises das dívidas dos países do chamado Terceiro Mundo.
A proposta de uma Organização do Comércio Internacional veio a tornar-se no muito mais modesto GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio), uma estrutura criada em 1948 para reduzir barreiras comerciais por meio de barganhas periódicas. Essa Instituição viria a dar ensejo à atual OMC (criada em 1995), a partir da Rodada Uruguai das Negociações Multilaterais do Comércio. A OMC possui um Conselho Geral, com um representante de cada membro, um Corpo de Solução de Desavenças, o Corpo de Revisão de Políticas Comerciais, o Corpo de Apelação e um Secretariado.
Podemos também considerar uma organização como a União Européia, de certa forma, também como uma contribuição das consequências da II Grande Guerra, para as relações internacionais. Basta lembrar que já em setembro de 1946, Winston Churchill preconizava em Zurique, a constituição dos Estados Unidos da Europa. No seguimento, ocorreram eventos como a unificação das Zonas de ocupação britânica e americana na Alemanha. Pode se considerar, ainda, que a criação, em 1951, da Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA), reunindo países do BENELUX, a França, a Itália e a República Federal da Alemanha, é o embrião da União Européia. Estas iniciativas associacionistas foram tributárias da Doutrina Truman, e do seu correspondente econômico, o Plano Marshall, este último uma criação bastante imbricada à reorganização da vida política e econômica do pós-guerra.


Bibliografia:
GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Quinhentos Anos de Periferia: uma contribuição ao estudo da política internacional. 3.ed. Porto Alegre: UFRGS, 2001.
HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve Século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências: transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000. Rio de Janeiro: Campus, 1989.

SARAIVA, José Flávio Sombra (Org.). História das Relações Internacionais Contemporâneas: da Sociedade Internacional do Século XIX à era da Globalização. São Paulo:Saraiva, 2007.

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