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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A Economia Brasileira no Século XIX - (5ª parte)




A Economia Brasileira no Século XIX – Parte 5

(Continuação...)

A solução que equacionou a vinda do imigrante viria em 1870, sendo verdade como nos lembra o Prof. Celso Furtado, acompanhada de um conjunto de condições favoráveis do lado da oferta. Uma dessas condições foi a unificação italiana, de profundas conseqüências econômicas, onde o Sul da península, ou seja o reino das duas Sicílias, de menor grau de desenvolvimento e mais baixa produtividade agrícola acabou em difícel situação frente ao Norte, mais desenvolvido. A conseqüência foi a desorganização das indústrias manufatureiras do Sul, inclusa a indústria têxtil que contava com grau de desenvolvimento relativamente alto. Com isso, veio a pressão sobre a terra, do excedente de população agrícola, gerando intranqüilidade social, onde a solução migratória apareceu como verdadeira válvula de escape.
Assim, as bases para a formação da grande corrente imigratória que tornaria possível a expansão da produção cafeeira no Estado de São Paulo foram lançadas quando o governo imperial passou a encarregar-se dos gastos do transporte de imigrantes. Nessa solução, o fazendeiro deveria cobrir os gastos do imigrante durante seu primeiro ano de atividade, devendo colocar à sua disposição terras em que pudesse cultivar os gêneros de primeira necessidade para manutenção da família. O imigrante teria, na avaliação de Furtado, seus gastos de transporte e instalação pagos e sabia a que se ater com respeito à sua renda futura.
Dentre as atividades produtivas já tratadas, falou-se de sistemas, onde figura a grande lavoura de exportação. Contudo, nos poros dessa economia voltada “para fora” aparecem vez por outra referências à lavoura de subsistência. Convém dedicarmos algumas linhas a essa importante atividade econômica que não estava voltada para o mercado externo. Lembramos então que foi no Sul da província de Minas, como reflexo da expansão da mineração que se formaram núcleos de população rural. Desse comércio de gêneros e animais, surgiram os capitais da vanguarda da expansão cafeeira.
É também uma precária economia de subsistência que tão mal impressionou os viajantes europeus que atestaram o rudimentar sistema econômico das primeiras colônias de imigrantes alemães instaladas no Brasil. Na verdade mesmo se não omitirmos o fato que, como escreveu Celso Furtado, essas colônias careciam totalmente de fundamento econômico, somos forçados com esse autor a admitir que em virtude da abundância de terras, o sistema de subsistência tende naturalmente a crescer, implicando a mais das vezes esse crescimento em redução na importância relativa da faixa monetária. Como afirmou Furtado, o capital que dispõe o roceiro é mínimo e o método que utiliza para ocupar novas terras o mais primitivo. Reúnem-se em grupos, abatem as árvores maiores e em seguida usam o fogo como único instrumento para limpar o terreno. Entre troncos e tocos não destruídos, plantam a roça, sendo que para os fins estritos de alimentação de uma família, essa técnica será o suficiente. O “caboclo” é uma criação da economia de subsistência. A esse caboclo não conviria abandonar essas primitivas técnicas por outras mais avançadas, pois o excedente de sua produção não teria valor econômico.
Se a roça era a unidade econômica mais importante da economia de subsistência, do ponto de vista social, a unidade mais significativa era a que tinha como chefe o proprietário de terras, a quem interessava que o maior número de pessoas vivessem em suas terras, pois se cabia a cada um tratar de sua própria subsistência, o senhor de terras poderia dispor da mão-de-obra de que necessitasse, e o prestígio de cada um dependia da quantidade de homens que pudesse utilizar a qualquer momento, e para qualquer fim.
Assim, há de se registrar os fluxos migratórios onde florescera a economia mineira, com a população deslocando-se a grandes distâncias em razão da maior escassez de boas terras, formando uma corrente migratória em direção ao Estado de São Paulo, bem antes de neste penetrar a lavoura cafeeira. Outra dessas correntes investiu na direção do Mato Grosso, ocupando primeiro as terras bem irrigadas do Triângulo Mineiro.
Atesta ainda Furtado que as colônias européias localizadas no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, em virtude da qualidade e abundância de suas terras proporcionavam, mesmo a um nível baixo de técnica agrícola, um suprimento mais que adequado de alimentos que se traduzia em uma altíssima taxa de crescimento demográfico vegetativo. Esses fatores – massa populacional e excedente de alimentos – constituirão fatores básicos do rápido desenvolvimento da região sul do país em etapas subseqüentes, quando a expansão do mercado interno, ao impulso do desenvolvimento cafeeiro, criar os estímulos que anteriormente não existiam.
Na região nordestina essa expansão já se realizava desde o século XVII e na segunda metade do século XIX, em algumas de suas sub-regiões, os sintomas de pressão demográfica sobre a terra tornaram-se mais ou menos evidentes. O desenvolvimento da cultura algodoeira, nos primeiros decênios do Dezenove, havia, ao permitir uma diversificação da atividade econômica, auxiliado para intensificar o crescimento da população. Mas ondas de prosperidade da cultura algodoeira, como as experimentadas pela elevação de preços causada pela Guerra Civil norte-americana durante os anos sessenta, ao mesmo tempo que traziam riqueza, contribuíam também para criar um desequilíbrio estrutural na economia de subsistência, à qual sempre revertia à população nas etapas subseqüentes. Esse problema estrutural assume extrema gravidade por ocasião da prolongada seca de 1877-80, onde desapareceu quase todo o rebanho e pereceram entre cem a duzentas mil pessoas.
Uma das soluções então apresentadas foi a emigração para outras regiões do país, e especialmente para a região amazônica, pois os governos dos Estados amazônicos interessados, organizaram serviços de propaganda e concederam subsídios para o transporte.
Cumpre lembrar que a economia amazônica entrara em decadência desde fins do século XVIII, quando foi desorganizado o engenhoso sistema de exploração da mão-de-obra indígena, estruturado pelos jesuítas. Em pequena zona do Pará se desenvolvera uma agricultura de exportação que seguia de perto a economia maranhense. O algodão e o arroz haviam conhecido uma etapa de prosperidade por ocasião das guerras napoleônicas. A base da economia da região eram as especiarias extraídas da floresta, sendo que destes produtos extrativos, o cacau era o mais importante, porém a forma como era produzido não permitia que o produto alcançasse maior significação econômica.
O aproveitamento dos demais produtos da floresta deparava-se sempre com a mesma dificuldade: quase inexistência de população e dificuldade de organizar a produção com base no escasso elemento indígena local. No caso da borracha, é registrada sua exportação desde os anos 20. Nos anos 40, a média era de (460 ton. anuais), 1.900 ton no decênio seguinte e 3.700 ton. nos anos sessenta, momento no qual começa a se registrar aumento nos preços do produto.
A borracha estava destinada nos fins do séc XIX e começos do séc XX, a transformar-se na matéria prima de procura mais rápida no mercado mundial, pois a indústria de veículos terrestres a motor de combustão interna será o principal fator dinâmico das economias industrializadas, durante um largo período que compreende o último decênio do século XIX e os três primeiros do séc XX.
(Continua...)

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