sábado, 22 de agosto de 2009
A Economia Brasileira no Século XIX (6ª Parte)
A Economia Brasileira no Século XIX – Parte 6
(Continuação...)
O problema de como aumentar a produção da borracha, em virtude de se tratar de extrativismo em árvores da Bacia Amazônica, colocava um nó na grande procura movida pelo comércio internacional.
Havia ficado demonstrado que uma ou mais plantas que produziam a matéria-prima da borracha (látex) poderia ser adaptada em outras regiões de clima similar ( o que não tardaria a acontecer sob capitais ingleses na Ásia), desde que contando com adequado suprimento de mão-de-obra e recursos para financiar o seu longo período de gestação.
A expansão da produção da borracha no Brasil foi uma questão de mão-de-obra, resolvida por braços nordestinos a partir de enorme transumância realizada nos fins do século dezenove, sendo que apesar da precariedade dos dados, comprova ter a população do Pará e Amazonas – consideradas em conjunto – saltado de 329.000 (censo de 1872), para 695.000 habitantes.
Ora, de acordo com o censo de 1900, esses dados correspondiam a um influxo externo considerado da ordem de 260.000 pessoas, não computados aqueles que haviam penetrado na região que viria a tornar-se depois, o Estado do Acre.
A tese do Prof. Celso Furtado é que, em virtude da magnitude desses dados, já existiria no Brasil de fins do século XIX, um reservatório substancial de mão-de-obra suficiente enquanto solução alternativa, caso não tivesse sido possível a solução pelo recurso ao imigrante europeu.
Seria para a Amazônia que seguiria o imigrante nordestino, seduzido por propagandas fantasistas dos agentes pagos pelos interesses da borracha, ou pelos exemplos daqueles que haviam outrora, amealhado recursos nos tempos em que a borracha alcançara melhores preços.
Aos novos imigrantes aguardavam doenças tropicais; na ignorância daquilo que se passava na economia mundial, permaneceriam na região, deixando-se ficar por falta de meios para regressar, regredindo à economia de subsistência e marcados por uma baixíssima taxa de reprodução.
Drama social somente parcialmente mitigado pela anexação do Acre ao território brasileiro, mesmo assim, mediante indenização à Bolívia ( 2 milhões de libras), e a obrigação da construção da estrada de ferro (Madeira-Mamoré), que proporcionasse à Bolívia acesso ao curso navegável do rio Madeira.
Ocorria então, em face de uma taxa de natalidade insignificante, um enorme desgaste humano em uma etapa da Economia na qual o problema fundamental da economia brasileira era aumentar a oferta da mão-de-obra.
E tão grande era essa necessidade, que para o homem que integrava o sistema escravista, a abolição do trabalho servil assumia proporções de uma hecatombe social. Nas palavras de Celso Furtado, a abolição da escravatura, à semelhança de uma “reforma agrária” não constitui per se, nem destruição, nem criação de riqueza, mas somente redistribuição da propriedade dentro da coletividade, apenas a propriedade da força de trabalho escrava passa do senhor de escravos para o indivíduo; este deixa de figurar na contabilidade daquele como um ativo, passando a constituir-se em mera virtualidade.
Para Furtado enfim, o aspecto fundamental que envolve o problema da abolição encontra-se no tipo de repercussões que a redistribuição da propriedade terá na organização da produção, no aproveitamento dos fatores disponíveis, na distribuição da renda e na utilização final dessa renda.
Observada a abolição de uma perspectiva ampla, conclui o Prof. Furtado que a mesma constitui-se mais em medidas de caráter político que propriamente econômico, pois abolido o trabalho escravo, em nenhuma parte foram observadas reais modificações na forma de organização da produção e, defende Furtado, mesmo na distribuição de renda, não obstante haver sido eliminada uma das vigas básicas dos sistema de poder formado na época colonial e que, ao perpetuar-se no século XIX, constituía em fator de pouco dinamismo econômico.
(Continua...)
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