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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A Economia Brasileira no Século XIX - Parte IV






A Economia Brasileira no Século XIX – Parte 4

(Continuação...)

Utilizando intensivamente a mão-de-obra escrava e contando com abundância de terras, a empresa cafeeira, amplamente baseada neste último fator, contava ainda com a formação de uma nova classe empresarial cuja vanguarda, desde o começo, esteve formada por homens com experiência comercial, no que aliás, ressalta Celso Furtado, que em toda a etapa da gestação da economia cafeeira, os interesses da produção e do comércio estiveram entrelaçados. Essa classe de empresários desempenhará papel fundamental no desenvolvimento subseqüente do país.
Muitos daqueles que se haviam dedicado ao abastecimento da capital do país, a qual sofrera grande transformação de hábitos de consumo com a vinda da Corte portuguesa, ao acumular alguns capitais no comércio e transporte de gêneros e de café, passaram a interessar-se pela produção, no que se constituíram na vanguarda da expansão cafeeira. Esta nova classe dirigente formou-se, conforme anotou Celso Furtado, “numa luta que se estende em uma frente ampla: aquisição de terras, recrutamento de mão-de-obra, organização e direção da produção, transporte interno, comercialização nos portos, contatos oficiais, interferência na política financeira e econômica”.
A proximidade da capital do país constituía, evidentemente, uma grande vantagem para os dirigentes da economia cafeeira. Desde cedo eles compreenderam a enorme importância que podia ter o governo como instrumento de ação econômica. Este grupo possuía, na opinião do Prof. Celso Furtado, uma consciência clara dos seus próprios interesses, o que os diferenciaria dos grupos dominantes anteriores ou mesmo dos contemporâneos.
Ao findar o terceiro quartel do séc. XIX, o país reitegrara-se nas linhas em expansão do mercado mundial, conseguira manter unidade política e territorial com extensas terras agricultáveis, contava com uma classe empresarial apta a autofinanciar a extraordinária expansão que a economia cafeeira conheceria, mas enfrentava um problema crucial: a mão-de-obra.
O censo de 1872 revelava uma força de trabalho escrava orçada em cerca de um milhão e meio de indivíduos. Dados revelam que a importação de escravos pelo Brasil havia sido três vezes maior que as realizados pelos norte-americanos na primeira metade do século XIX. Tendo crescido a procura de escravos no Sul para as regiões do café, o tráfico interno passa a intensificar-se, sendo transferidos escravos das regiões cuja rentabilidade econômica encontrava-se reduzida. A primeira vítima dessa drenagem de mão-de-obra foi a decadente região algodoeira, em particular o Maranhão. A região açucareira, mais capitalizada defendeu-se melhor dessa drenagem.
Em uma economia primário-exportadora como era a brasileira, o crescimento dava-se – ao contrário das economias industriais, que possuem o fator tecnológico – puramente em extensão. Destarte, o crescimento da economia brasileira deveria ocorrer puramente pela ampliação do fator disponível “terra” aliado à incorporação de mais mão-de-obra, de onde se colocava a grande questão fundamental: o aumento da oferta de força de trabalho disponível para a grande lavoura.
Foi sugerido fomentar a imigração européia como solução alternativa para o problema da mão-de-obra. Estes deveriam vir então para aumentar a oferta da mão-de-obra para a “grande lavoura”, denominação da época que deveria corresponder ao termo plantation utilizado pelos ingleses; ingleses que cabe anotar, reexportavam para as Antilhas, como trabalhadores “livres”, os africanos apreendidos nos navios negreiros que se dirigiam ao Brasil. Em contraposição, convém lembrar que nos EUA, a imigração européia nada tinha a ver, ao menos em termos diretos, com a oferta de mão-de-obra para as plantações. O escravo negro norte-americano apresentava apreciável crescimento vegetativo, no que ainda cabe lembrar, muitos não trabalhavam em grandes plantações.
Os Estados Unidos se beneficiavam ainda dos navios cargueiros e semi-cargueiros que se dirigiam à Europa com grandes carregamentos de algodão; o volume mais condensado das importações para a América permitiam que na viagem de retorno, fossem praticados baixos preços nas passagens, favorecendo os novos colonos que ainda contavam com um mercado de trabalho em expansão, em parte reflexo do desenvolvimento das plantações no Sul, à base do trabalho escravo.
No caso brasileiro, a imigração européia adquiria condições bastante distintas. As colônias criadas careciam, nas palavras de Celso Furtado, do fundamento econômico, tendo na sua razão de ser a crença na superioridade inata do trabalhador europeu, particularmente se tivessem origem distinta dos antigos colonizadores portugueses. Para esses, pagava-se transporte, gastos de instalação e promoviam-se obras públicas artificiais para oferecer trabalho.
O que não livrava essas colônias de uma vida bastante precária, não havendo mercado para os seus excedentes de produção. Em breve, já por volta de 1859, se proibia a imigração alemã para o Brasil. O êxito das políticas imigratórias vinculava estas à dedicação imediata dos imigrados nas atividades produtivas rentáveis. Isto só poderia ocorrer se a colônia se integrasse nas linhas de produção de um artigo de exportação, ou fosse orientada de imediato para a produção de artigos que dispusessem de mercado no país. A produção para exportação estava no entanto, organizada no sistema de grandes plantações, exigindo imobilização de capital não acessível aos colonos em sua etapa de instalação; e caso se decidissem a plantar café, teriam de concorrer com empresas que exploravam a mão-de-obra escrava.
A classe dirigente da economia cafeeira passava a preocupar-se diretamente com o problema, e um grande plantador, o Senador Vergueiro, contrata diretamente seus trabalhadores da Europa, no que conseguiu do governo o financiamento do transporte, transferindo 80 famílias de camponeses alemães para sua fazenda em Limeira. Simples adaptação do sistema adotado nos EUA da época colonial, onde o trabalhador vendia o seu trabalho futuro, no caso brasileiro a diferença era que em vez do financiamento correr por conta do empresário, o governo cobria a parte principal do financiamento, que era a passagem da família.
Esse sistema, como sabemos, degenerou rapidamente em uma forma de servidão temporária, onde sequer havia um limite fixado de quando tal servidão terminaria. Com os anos sessenta, o evento da Guerra da Secessão e a melhoria dos preços do café, ficava ainda mais restringida a oferta interna de escravos do Norte para o Sul, em virtude da grande alta nos preços do algodão. A pressão desses acontecimentos sobre o mercado de trabalho fez com que se iniciasse um sistema de pagamento ao colono. Inicialmente o sistema adotado fora o da parceria, cabendo ao colono a metade do risco que cabia ao senhor das terras, com a perda da colheita acarretando em miséria para o colono em face de sua precariedade financeira.
O sistema misto é introduzido a partir dos anos sessenta, ficando garantido ao colono a parte principal da sua renda, sendo sua tarefa básica cuidar de um certo número de pés de café, recebendo para isso, um salário monetário anual, o qual era complementado por outro variável, pago no momento da colheita, em função do volume desta.

(Continua...)

2 comentários:

  1. Sua pesquisa e escrita é excepcional! É bom poder compartilhar tanto conhecimento com um professor.
    Aproveito para convidá-lo a visitar nosso pequeno blog de Relações Internacionais:
    http://caos-ri.blogspot.com/

    Aguardamos sua visita!

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  2. Olá! Agradeço pelas palavras gentis. E o Blog de vocês ficará nos favoritos do meu PC. Venham sempre nos visitar, bons estudos e um grande abraço. Antonio.

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