Sejam Benvindos ao Blog Estudos Diplomáticos !

Este espaço foi criado para reunir conhecimentos acadêmicos e informações relacionadas ao Concurso para ingresso no Instituto Rio Branco.



domingo, 28 de fevereiro de 2010

Política Internacional: Quinhentos Anos de Periferia (Parte IV)


(Continuação...)


No entanto, ao mesmo tempo que desenvolvem estratégias de preservação e expansão de poder no cenário internacional, as estruturas hegemônicas, pari passu suas criações, acabam sofrendo seus efeitos. Samuel Pinheiro Guimarães identificou cinco grandes processos de transformação que se encontram inseridos no cenário internacional, os quais se caracterizam pela ocorrência simultânea e interativa. O autor esclarece ainda que cada um desses processos não é inexorável, imprevisível, e a-histórico, como parecem sugerir – ao descrevê-los – alguns teóricos ou apologistas. Para Samuel Guimarães, a realidade é que tais processos de transformação têm sua origem e curso influenciados pelas ações das grandes potências e das estruturas hegemônicas de poder. Tais processos, assinala o autor, repercutem sobre aquelas estruturas, sobre as correlações de poder dentro delas e sobre as sociedades dos Estados que as integram. O primeiro dos cinco grandes processos mencionados acima seria a aceleração do progresso científico e tecnológico. Neste sentido, estima-se que o total de conhecimentos científicos e tecnológicos à disposição da sociedade dobre a cada 11 anos, aceleração que decorre, na avaliação do autor, em decorrência do número atual de cientistas e engenheiros engajados em atividades de pesquisa e desenvolvimento ser maior que a soma de todos aqueles que trabalharam em épocas passadas, o que fez com que o processo de produção científica e tecnológica assumisse características industriais em si mesmas altamente tecnológicas, atividades nas quais os governos e as empresas investem enormes somas. E se as empresas gastam recursos em pesquisa tecnológica para reduzir custos de produção e aumentar “fatias” de mercado ou “criar” mercados novos, os governos investem em programas científicos e tecnológicos por dois motivos principais: 1. Financiar pesquisas de alto risco, assim consideradas, assinala o autor, pelas empresas, devido ao custo, ao longo período de maturação, e à imprevisibilidade de resultados. Dessa forma foram financiados os primeiros programas em biotecnologia, em informática, em atividades espaciais e nucleares, e em outros setores nos EUA, e são financiados em outros países, os programas em pesquisa científica básica. 2. O segundo objetivo dos governos é o de desenvolver os armamentos necessários à defesa de seus interesses políticos e econômicos fora do território nacional. Dessa forma, o progresso científico se verifica primordialmente nos centros universitários de pesquisa, em programas financiados pelas empresas privadas, mas especialmente pelo Estado, devido à dificuldade de apropriação privada do conhecimento novo. Os resultados das atividades de pesquisa tecnológica desses programas, sejam eles financiados ou não pelo Estado, acabam por ser apropriados privadamente pelas empresas por meio da concessão de patentes e de sua defesa pelo Estado. Esforço permanente de inovação tecnológica é essencial para a grande empresa manter fatias de mercado, para expandi-las, para criar novos mercados para velhos ou novos produtos e para entrar em novos mercados.
Na avaliação de Samuel Pinheiro Guimarães, despesas permanentes do Estado em pesquisa são necessárias, e até imprescindíveis, nas atuais condições sociais da guerra, para proteger militarmente os canais de suprimento de insumos e de distribuição de produtos finais, que constituem a própria estrutura dos mercados mundiais e que formam a chamada economia global, em cujo centro se encontram as gigantescas corporações multinacionais, suas principais beneficiárias. Interessante ainda lembrar é o papel dos fluxos de capital, diferentes e que ocorrem em todas as direções: há fluxos de investimentos diretos, que produzem lucros; de empréstimos, que produzem juros; de comércio, que produzem receitas, verificados principalmente entre os países altamente desenvolvidos da tríade Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão. Esses fluxos têm resultado em uma crescente concentração de riqueza, renda e poder nos países da tríade, e essa tendência, realça o autor, tem sido um aspecto permanente da cena internacional. Por comporem uma importante e extraordinária parcela dos lucros das empresas multinacionais, as operações no exterior, em especial nos países subdesenvolvidos da periferia, permitem ou facilitam que o lucro de suas operações nos países onde têm sede sejam menores, e não “escandalosos”, e maior seja a remuneração do trabalho. Assim, nas palavras do autor, a melhor remuneração do trabalho nos países-sede das empresas multinacionais é facilitada pela sua altíssima lucratividade na periferia, decorrente sobretudo dos baixos salários nela vigentes e das posições oligopolísticas que desfrutam.


(Continua...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário